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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Discurso de Formatura 1

Acredito que o que todos esperam de um pequeno discurso na formatura é que ele contenha agradecimentos, mensagens de esperança e sabedoria e muita emoção. Confesso minhas dificuldades com coisas desse tipo, tão convencionais, afinal não me considero uma pessoa nada convencional, na verdade quem me conhece sabe que eu sou bastante excêntrico.
Sendo assim não vou elogiar desmesuradamente meus alunos aqui presentes. Vou apenas dizer que amo todos eles, do fundo do meu coração, que jamais os esquecerei, que espero que não me esqueçam e que sejamos, para sempre, amigos. Fiquei muito emocionado de mais uma vez estar aqui na cerimônia de formatura , tendo a oportunidade de falar para tão significativa comunidade.
Sinto-me, porém, na obrigação de dizer alguma coisa, colocar idéias que representem, de alguma forma, o ano que passou, e que também falem um pouco de tudo isso que acontece no processo educacional brasileiro, que, afinal, é nosso “feijão com arroz”, o que nos une aqui hoje e nos uniu durante a caminhada destes jovens. Se for dizer o que penso, e me sinto obrigado a isso, talvez não agrade a muitos, mas devo ser coerente com o que venho fazendo em contribuição a esse processo.
Não gosto nem um pouco do que tenho visto em meus 10 anos de experiência como professor de ensinos médio e fundamental. Portanto, as críticas que aqui farei devem também ser encaradas como uma “espécie de mensagem de esperança” pois poderiam ser, para alguém mais atento, um ponto de partida para uma reflexão aprofundada que, como conseqüência, gerasse uma ação efetiva orientada para a mudança que é, a meu ver, absolutamente necessária.
Primeiro, não devemos colocar a culpa de tudo o que acontece de errado no mundo em nossos jovens. Os nossos jovens deveriam ser nosso norte, nossa direção e expectativa, deveríamos aprender com eles, tentar compreender com seus olhos o mundo que será em breve, só deles, aprender a ensiná-los, aplicarmos ao processo educacional sua pureza, esperança, energia, dando-lhes nossa experiência renovada por sua juventude. Mas não é isso que temos feito. Cansados, combalidos, humilhados, vítimas que somos, damo-lhes, muitas vezes, o pior de nós, nosso ranço, nossos recalques, nosso mundos velhos, prontos e petrificados, e, em troca, recebemos deles o pior. Os atacamos com nosso poder opressivo e os atiramos a paredes, tentando enfiar goela abaixo verdades que eles não precisam e não lhes servem. Esquecemos a emoção que seria receber sua aura límpida, seus hormônios abençoados de novidade e desejo de transformação, e nos contentamos com cruzes em modelos surrados e mortos de pensamento, ao invés de termos palavras com vida, emoção e desejo.
Segundo, esquecemos a arte. Não apenas a arte como forma de conhecimento, mas a arte que é viver, a qual deveria ser o objetivo de nossa escola. Deveríamos produzir pensadores, músicos, arquitetos de renome internacional, teatrólogos, filósofos e intelectuais capazes de transformar o mundo, que, nem preciso dizer, está se destruindo. Mas o que fazemos, apenas, é prepará-los para cair nesse mundo, reproduzi-lo, ter dinheiro, viver como os outros, todos iguais, e morrer esquecidos, sem esquecer, é claro, de coagi-los a espalhar entre as gerações a mesma maldição de mediocridade e indistinção, de falta de originalidade, de robô repetidor, de não-criador, de não humano.
Não, senhores pais, não é para isto que estamos aqui, definitivamente. Para isto, eu não estou aqui e posso, devo convencê-los do mesmo. Mas para que possamos ter jovens criativos que possam transformar o mundo, precisamos de vocês, jovens pais. Vocês precisam se educar para educá-los, afinal a principal instância de formação, sem sombra de dúvida é a família. Não deleguem a terceiros a formação deles. Agora, também não lhes tolham a liberdade de fazerem suas próprias opções.
Também sou pai, estou cansado de trabalhar tanto, às vezes não tenho nem ânimo pra conversar com minha filha, mas converso, nem que seja no limite de minha energia. Quando olho para ela não vejo um ser diferente, demandador e desinteressante, nem tampouco projeto nela algo que eu não fui e queria ter sido, isto é um erro. Eu vejo ali uma luz, algo diferente, novo e surpreendente que nunca faz o que eu espero exatamente, que pode ser o espelho do mundo de amanhã. Estamos diante de deliciosos “MUTANTES”, cheios de novos poderes que sequer compreendemos, X-Men que atravessam paredes, voam e até lêem pensamentos. Por isso não vamos lhes presentear apenas com coisinhas fúteis e da moda, não vamos encher seus ouvidos e espíritos com esse lixo que toca no rádio, que é escrito na mídia e é passado no cinema. Dêem a seus pupilos “Conteúdo”, “Substrato” de verdade. Não entupam eles apenas com informações inúteis, com as quais nós mesmos fomos entupidos um dia. Dêem-lhes ARTE capaz de projetar em suas mentes coisas novas, sensações renovadas de realidade futura, fresca, pura, indestrutível e não-consumível.
Em Terceiro lugar, e, por fim, para educar, lutemos. Lutemos juntos, vamos sair do nosso cantinho, da nossa materiazinha, da nossa funçãozinha determinada pela sociedade industrial despersonalizada compartimentada, bancária porque tudo é vendido, e vamos construir, dentro da educação, uma coisa nova, mais bonita e que cause menos sofrimento a todos. Aprender, pelo amor de deus, não é sofrer, muito antes pelo contrário, aprender é, tem que ser, brincar. Brincar de ser inteligente, brincar de criar coisas novas, brincar de reler as velhas, brincar de sermos amigos e fazer as coisas juntos, brincar de aceitar as diferenças, brincar de não se achar superior, brincar de gostar de ensinar, brincar de gostar de aprender com o outro, brincar de conversar.
E jamais se esqueçam todos que a fase em que aprendemos mais, com mais facilidade em nossas vidas foi aquela em que éramos simplesmente crianças.

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