Quem sou eu

Minha foto
Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Invisíveis!

Por Roseli Santos
  

Um artigo escrito recentemente pelo amigo, fotógrafo e escritor, Jerri Rossato Lima, me chamou a atenção para a invisibilidade das pessoas que não estão conectadas 24 horas no Facebook. Perceberam como há a necessidade crescente e permanente de “curtir”, “comentar” e “postar” qualquer coisa para existir? Eu, que não sou hipócrita e admito também utilizar essa ferramenta para contatos pessoais e profissionais, parei para analisar mais atentamente o perfil dos ditos “amigos” , especialmente daqueles que passam a maior parte do tempo “dizendo coisas”, “qualquer coisa”, online, seja por laptops, celulares, computadores pessoais e sei lá mais o quê, simplesmente para não se sentirem invisíveis ou acreditarem que, assim, existem realmente, por ironia, num mundo virtual. 
O Jornalista Marcello Vernet de Beltrand afirmou em artigo publicado em Zero Hora que  “conexão não é comunicação. Conexão tem relação com velocidade, instantaneidade, multiplicidade. Já comunicação entre indivíduos pertence ao continente da arte, pois exige tempo, contato face a face, profundidade, escuta, atenção, relação, percepção. Enquanto a conexão remete ao universo infinito e virtual, a comunicação nos convida a um olhar e estar – aqui e agora – no vasto território do outro. A comunicação é arte lenta e pressupõe ouvir mais do que falar, processar informações, selecionar significados, atribuir valor, eleger caminhos. Conexão exige acesso, comunicação é processo. Portanto, caro leitor, se você tem mais de 150 conexões, abra os olhos. Você pode estar vencendo a batalha da conectividade, mas, definitivamente, a qualidade única e original do ser comunicativo que o habita empobrece... velozmente”.
Fica claro que o número de conexões não justifica sua existência, mas basta uns dias desconectado  e pronto. Quem é você? Por onde anda? Morreu? Sumiu? Por favor, para ser quem se é não é preciso estar online. Basta um telefonema e, se você for amigo, verdadeiro, como os que eu tenho com o maior orgulho, nem precisa postar bobagens a cada segundo para mostrar-se vivo, presente.
Outro amigo meu contava, espantado, que se comunica diariamente com uma pessoa pelo Facebook, mas que ao se deparar pessoalmente com a amiga virtual, dia desses, limitaram-se  a um “oi tudo bem?” e cada um foi para o seu lado, sem nada a dizer. Esquisito, não? Intimidades online viram nada  quando a visibilidade é real. 
Confesso que tem sido divertido e curioso fazer esta análise da invisibilidade/visibilidade em um suporte virtual.  Basta postar algo e todos te reconhecem novamente. Esqueça ou se omita de dizer algo e... surpresa...você não existe mais. Desapareceu. O mais interessante é que há pessoas que forjam ser formadoras de opinião, comentando até a pedra que surje no meio do caminho, analisam seus umbigos e o dos vizinhos, observam o mundo baseados no que os outros fazem e não no que realmente acreditam e pensam.
Mas a quem interessa  ouvi-los?  Excetuam-se aqui, obviamente, os que utilizam essa ferramenta para opinar com propriedade sobre suas áreas de atuação ou envolvimento, compartilhando conhecimento e informação, cultura e diversão, entretenimento saudável, sabedoria para o mundo.  Pessoas deste nível nunca serão invisíveis, mesmo que deixem de postar algo no Facebook, no Twitter ou seja lá o que for. Essas sim, são formadoras de opinião e somam na vida real ou virtual.
Portando, queridos amigos, seja do Facebook ou da vida real, não se importem tanto com a visibilidade online, forjada em bases muito frágeis. Comuniquem-se verdadeiramente com seus amigos reais, porque conexão é outra coisa. Ajuda, mas sua instantaneidade pode durar apenas alguns meses, talvez alguns dias, horas, minutos, segundos. Uma amizade real, e essa é daquelas que se conta nos dedos (não passam de cinco ou seis, podem acreditar nisso),nos acompanhará  até o fim da vida. E essa, sim,  um dia  terminará de verdade, minha gente, ainda que nosso perfil permaneça online e já nem estejamos mais aqui, invisíveis, para sempre!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Crescimento

por Lawrence David

Foi muito bom, quando eu me imaginava um professor, durante a faculdade. Eu era feliz em preparar materiais didáticos que um dia dariam as informações corretas aos meus alunos, levando um ponto-de-vista mais ou menos equilibrado e moderno de minha disciplina à sua presença. Oh, quanta coisa guardei pra mostrar depois, pra fazê-los saber o quanto o conhecimento é importante, o quanto a sociedade é injusta e tudo o mais. Até passar no concurso do estado eu era esse idealista convicto, em sua inabalável missão de construir o futuro por suas lições de sabedoria e abnegação no caminho do saber.
Meu primeiro ano de aula para o ensino médio foi pela manhã. Tcharam! Finalmente, minha primeira aventura como efetivo, meu emprego de mestre. Acho que naquela época eu conseguia fazer bem o que queria e desejava naquele momento. Me lembro de meu primeiro conselho de classe. Fiquei apavorado com o que meus colegas diziam dos alunos. Mas aquilo não era nada do que eu pensava sobre eles! Adjetivos de tom pessoal é o que predominava. “É um idiota, burro, ignorante”, daí pra fora. E eu, defensor dos frascos e comprimidos, já me indispus com os meus colegas ali mesmo. Depois me fiz de assustado e recuei.

Conhecendo melhor meus alunos fui percebendo suas sutilezas de personalidade e vi que a juventude em 2000, não era fácil. Gente um tanto metida ali na Zona Sul. Os alunos podiam tudo e os professores usando seu poder de vida e morte pra se proteger. O SOE não funcionava porque estava calcado no moralismo repressor e policialesco e não no diálogo. Mas eu, me salvava no meio daquilo tudo, porque minha aliança era com a gurizada. Então me protegia, enfrentando meus colegas, tentando romper os limites tradicionais da educação. Afinal, em geral, a pedagogia predominante ainda era a diretiva-bancária-seletiva.
Eu era do contra mesmo. Mas aquela lufada de ar fresco dos que entraram em 2000, transformou as coisas. Elegeram-se direções mais democráticas com a paridade dos votos entre comunidade, funcionários e professores. E aí houve uma grande transformação. Mais plurais, mais representativos da sociedade civil, esses novos núcleos diretivos deram impulso a um processo de atualização relativo à LDB, que, com todos os seus defeitos e limitações, representou, de fato, um avanço. Onde não houve grande alteração por renovação, o foi por influência da realidade, que galopava prenhe de inovações, algumas até profundas.
Surfando nessa onda encontrei meu caminho, e minhas aulas entre 2003 e 2007 chegaram em um nível, em minha concepção, bastante satisfatório. Por ver meus alunos profundamente envolvidos naquilo que eu propunha, pelas inúmeras vezes em que fui conselheiro de uma turma, pelo apoio demonstrado publicamente nos Conselhos de classe que agora eram participativos, pela amizade que ficou até hoje com muitos, pelas festas que jamais esqueceremos, pelas atividades de teatro, música e reflexão que sempre davam o que falar, tudo ficou muito legal. Eu creio que cheguei no primeiro rubicão de um professor. A mocidade madura me fez muito feliz, mas …

Veio a época das vacas magras. Do corte em cima da educação, da ameaça e do medo. Mudou pra pior. Meu salário foi achatado. Cansei de trabalhar 60 horas por semana (e ainda aos sábados). Chega! Perdi a paciência com os (pobres!) alunos. A verdade é que hoje me parecem bem mais agitados e falantes que há onze anos atrás. São mais dispersos, egoístas, respondões e não largam aquele maldito celular! Os professores evoluíram, apesar de tudo. Meus amigos me parecem mais confiantes, apesar de todas as agruras e sofrimentos, inseguranças dos últimos anos.
A escola brasileira mudou, de uma certa forma. Não sei se foi pra melhor. Hoje está todo mundo lá é verdade. Misturaram-se ricos e pobres, brancos e negros, mais do que em qualquer outra época da história. Essa diversidade é ótima. Mas e o preparo pra isso? Não houve. Não sabemos muito bem lidar com isso. Nem com a inquietude do povo jovem. Nem com o pansexualismo. Nem com bullying. Nem com os alunos inclusos. E eu fui perdendo a paciência e a esperança e me sentindo cada vez mais cansado e impotente diante da situação, e adoeci.
Não sei exatamente que tipo de mal me afetou. No meu caso tem a ver, principalmente com poluição sonora. Aquela gente falando, falando, falando o tempo todo sem parar e eu tendo que gritar pra controlar tudo aquilo. E eu não gosto de gritar enfurecido como fico. Há muita falta de respeito a nós ainda, e de todos os lados. Então eu surtei. É bem verdade, apenas duas ou três vezes, mais fiquei muito nervoso mesmo, como nunca achei que ficaria fazendo algo que sempre amei fazer. Pela primeira vez em 10 anos entrei em licença (só 13 dias), iniciei um tratamento à base de homeopatia incluindo um antidepressivo, e terminei 2010 meio instável ainda. Me estressei em momentos finais também. Andava com protetores auriculares e óculos escuros pra evitar claridade e barulho (e ainda uso, às vezes), mas sobrevivi.
Agora estou bem. Creio que toda pessoa normal e saudável como eu tem que passar por isso para repensar sua prática e recuperar a autoconfiança. Se abalar e cair para se reconstruir. Vejo gente que diz que sempre foi perfeitinho e equilibradinho cometendo atrocidades por aí. Vejo o despreparo de meus colegas pra lidar com esse novo mundo e estou mais solidário a eles do que antes, exatamente porque experienciei o sofrimento do mestre. Não é fácil essa nossa profissão. Somos humanos, falíveis e não devemos nos envergonhar disso. Se hoje já conseguimos todos pedirmos desculpas e nos tratarmos como iguais é porque passamos, juntos, por uma laboriosa fase de crescimento.   
Fotos de dramatizações de conteúdos em historia de 2011 e do corpo docente da Escola Pe. Reus presente na assembleia do CPERS Sindicato em Abril deste ano.

domingo, 1 de maio de 2011

Fundamental

por Lawrence David

Ah, a pureza da antiga quinta série. O 6º Ano ficou difícil ultimamente. Não chegam com leitura boa e nem facilidade de conversar sobre a matéria. Têm medo de tudo. São carentes. Precisam de um pai (mãe) que lhes ensine tudo, escrever, opinar, pensar, refletir, observar, são tão verdinhos e sem experiência. Tudo é uma curiosidade, tudo é novo até que a lentidão deixa de ser tolerada. Falta de atenção e interesse também. Então os travamos. Paramos para que desçam do carro do desespero para a realidade. Nem sempre a reprovação é justa ou resolve. Algum sabidinho educadinho se salva no meio do caminho. Não devemos duvidar da capacidade que as criancinhas tem de se adaptar! E muitos deles passam?!
Na 6ª (7º ano) se acalmam. Se chegaram até aqui é porque são inteligentes. Dedicados sobreviventes aprenderam a enganar o tempo muito bem. Brincam, descobrem, sorriem, buscam inovar, sem perder o rumo. Pra quem foi de raspão aqui é um novo (grande) risco de se perder. Cuidado! A surpresa e o engano espreitam a cada esquina. Mas admiração e pureza ainda se encontram por aí, apesar das tentações. Se as tentações vencem, tudo pode estar irremediavelmente perdido. Ma sempre resta uma esperança quando se ainda é criança.
Na 7ª é o “The Top”. Rubicão da primeira intelectualidade e deveremos ter controle total da turma nessa altura. Se é o contrário, grandes tristezas, stresses e lamentos, que podem até ser construtivos pra próxima etapa. Mas se está na mão é o paraíso! Vamos, meus pupilos, aprender é bom! Devemos nos esforçar pra sermos críticos, sabermos nos comportar vida afora e sermos adultos. Abre o olho, companheiro. O inimigo está em cada canto, esperando pra atacar quando a gente menos espera. Agora é a hora de juntar nosso montinho de conhecimento pra sair vida afora rico … e sábio, ao menos.
8ª. Cuidado, no final, tudo pode mudar, há há há há ha, o inimigo está aqui. Falsa maturidade, perigo da nação. É de pequenino que se torce o pepino. Não te enganes. Não há nada pior do que ser adulto. Mas chega uma hora em que não se pode mais ser criança e o preço é caro. A coisa toda está acabando. Atrás de que máscara vou me esconder agora? Quem sou eu? Para onde estou indo? Eu não posso mais só brincar. A hora é agora. Ponham o dedo aqui aqueles que querem se tornar maduros e felizes. Que querem achar um lugar ao sol pra viver até a velhice tranquila. Acho que, no fundo, todo mundo quer isso. Então trabalhemos. Mesmo que pareça difícil e custoso largar toda essa mordomia. Era hora de se ajeitar.