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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Afetividade

É claro que em qualquer relação que desenvolvamos em nossas vidas precisamos de um pouco de carinho e com os alunos não é diferente. Pobres são os colegas que não acreditam nessa máxima, pois tal modo de ver só acaba com eles e com os educandos. Está liquidado aquele que hoje, em sua prática pedagógica, não incluir tal necessidade no dia-a-dia, pois nunca foi tão urgente.

Num mundo em que as distâncias ocupam lugares virtuais (e muito pouco reais) nunca a aproximação e até, porque não dizer, o toque físico foi tão importante. Afinal, no fundo, é o que todos buscamos da vida. Conforto para nossas angústias, repouso para nossas ansiedades, amor para termos casa.

O olho no olho resolve mais problemas do que 1000 reuniões pedagógicas poderiam sonhar. A compreensão do outro, seja lá qual outro for, como ser humano é mais que recomendável na sala de aula, é essencial. Não dá pra exigir atenção e aprendizado de ninguém, se este não tiver um mínimo de carinho por nós. Truculência, ameaça, proibição, limite, castigo. É essa a moeda com a qual estamos acostumados a resolver nossas questões e, seguidamente, esquecemos de tentar, ao menos algumas poucas vezes, a gentileza, a conversa e generosidade ou a compreensão.

Ninguém apreende ou aprende aquilo que não admira, estima ou inveja (esta última, no bom sentido). É necessário gostar do professor – o máximo possível – e desejar – o mais ardentemente possível – aprender algo com ele. Fora disso, em minha opinião, não há esperança para a educação.

Se não pudermos chegar ao nosso ambiente de trabalho pela manhã com um sorriso, brincando e disposto a interagir de coração com aqueles cidadãos em formação ali, não vale a pena nossa desgastada profissão. Não paga nosso sono à noite nosso sofrimento pelos relacionamentos mal resolvidos, pelas brigas com muito desrespeito e as soluções resolvidas exclusivamente na base da autoridade e do autoritarismo.

Aqueles que têm mais dificuldade de expressar suas emoções e de serem amados são os que mais precisam, exatamente, de nosso apreço e afeição. Um pequeno e delicado investimento aqui, resolverá outros tantos possíveis (e prováveis) desentendimentos, brigas e confusões violentas mais adiante.

Por isso, sempre tentarei ter o máximo de calma possível para resolver minhas dificuldades com meus pupilos. Deixo de lado minha raiva, meus problemas pessoais, minhas frustrações, culpas e medos, para enfrentar um outro com a mesma disposição pela qual fui eleito pela vida para ser professor.

domingo, 25 de abril de 2010

Responsabilidade

Tudo o que acontece dentro de uma sala de aula, legalmente é, em primeira e última instância, responsabilidade do professor. Negligenciamos seguidamente nosso papel de responsáveis. Por descaso ou incapacidade. Por recalque ou falta de informação. Geralmente, garantimos para nós, apenas o que parece o fruto bom de nosso espaço, mas o mal também é um pouco nosso.

Aquele aluno desinteressado, é ou está assim por quê? Porque não conseguimos atrair sua atenção. Porque não gostamos do seu jeito e então não damos bola para ele. Porque ele não gosta de nós e nada fazemos para mudar isso. A princípio, somos os que devem ter mais capacidade de resolver esses problemas, somos profissionais ou não? Não dá pra fazer uma pergunta amigável a ele? Bater um papinho, ao invés de só despejar informação em cima dele? Dá, só dá. E aí podemos ser positivamente surpreendidos por algo mais interessante do que esperávamos desse “marginal” de nossa classe. Algo ele sempre tem de bom a nos oferecer, mas não nos julgamos responsáveis por isso.

Preferimos delegar à Supervisora, vice-diretora ou orientadora uma responsabilidade que é, em princípio nossa. Somos preguiçosos para isso. Arrastamos para fora de nosso espaço, por medo, insegurança ou falta de capacidade, coisas que nos pertencem e que nos poderiam fazer feliz.

Aí fica aquela pá de gente em segunda época (quá, quá, quá), ou melhor, nos estudos de recuperação. “Ah, mas não estudaram, foi por isso, eu não coloquei ninguém em recuperação, eles é que se colocaram”. Desculpe, isso é apenas parcialmente verdade. De nosso ponto de vista eles não se adaptaram à maneira como ensinamos. Temos uma tendência a culpar o aluno por tudo. Do ponto de vista deles eles talvez não venham entendendo o que tentamos ensinar-lhes. Poucos colegas ainda consideram essa assertiva como válida. E o pior é que eventualmente é a única coisa que explica o que aconteceu de fato. Melhor cumpriremos nossa função se admitirmos nossos erros.

Não dá mais para culparmos única e exclusivamente o mundo exterior, a realidade fora da escola e os alunos pelo fracasso escolar. Precisamos nos valorizar assumindo nossa cota de responsabilidade. Se os alunos evadem, precisamos atraí-los para a escola e não culpá-los, simplesmente, por evadirem. Não temos como mudar tal fato? Sim, podemos tentar, com certeza. Um professor sozinho não pode mais ser o único responsável pela reprovação do aluno. E se ele conseguiu avançar com os outros colegas, é justo o retermos só porque não evoluiu conosco? Não, claro que não. Vamos perdê-lo pro sistema privado ou para uma outra escola e essa injustiça cometida poderá comprometer até nosso emprego. Uma turma a menos por excesso de reprovação é que é antiético, e não insistirmos com um colega intransigente para que flexibilize seu ponto de vista. Mais que isso. Todo colega consciente tem o dever ético de lutar contra os abusos no uso do poder que nos é outorgado, essa sim, é uma missão ética. Essa sim é nossa verdadeira responsabilidade.

sábado, 17 de abril de 2010

Violência

Muito tem-se escrito e debatido sobre a violência em sala de aula. O que geralmente é mencionado é o fato dos professores estarem apanhando, sendo desrespeitados, agredidos, humilhados por "bondes” de alunos indignados ou pais defensores da impunidade da comunidade diante das instituições de ensino.

Mas o que desejo comentar são os mecanismos que estão por trás disso, que legitimam a violência como forma de resolver problemas em nossa sociedade.

Para começar, o óbvio, os meios de comunicação estão inundados por violência de todos os tipos. É possível ver-se, na internet, por exemplo, vídeos que mostram espancamentos, assassinatos, humilhações, degolas reais. Isso não parece assustar mais ninguém, na verdade até parece divertir. Virou um brinquedinho com o qual todos se divertem, e mandam, via bluetooth, de celular para celular. Os 15 primeiros minutos de qualquer programa jornalístico de rádio ou televisão também são sangue cru, além dos jornais de mídia impressa que existem quase só pra mostrar isso.

Nem precisamos relembrar os desenhos animados, que ainda assistimos na televisão, onde personagens-ídolo das crianças agem de forma dissimulada, mentirosa, sádica. Os filmes de Hollywood em horário não muito nobre onde jorra ketchup pra todo lado, onde são dados milhares de tiros por minuto.

Mas não é só isso.

A Violência está na música, no homem cuja distração é crucificar as parceiras com muitas traições (quando isso não ocorre na vida real) ou vice-versa. Na letra que diz que "vai traçá”, "vai arrancá", "Vai pagá", "vai pegá", "Vô sentá o pau" e por aí afora.

Está na brincadeira de mal gosto, Bulying nosso de cada dia.

E o que é pior: na paixão e na aceitação das pessoas em falar somente sobre isso, pensar somente sobre isso, morrer de medo sempre e consumir e comer fast food pra se aliviar.

Há ainda aqueles que pregam abertamente a Violência como forma de resolver a violência, o que só pode gerar mais violência. Dá-lhe paulada nos marginais, mata, espanca, como faziam em certo filme, apenas pra extrair informações.

Como professor, vejo colegas que ficam horrorizados com o que acontece com nossa classe, mas não abandonaram as velhas práticas autoritárias da sala de aula: a ameaça, o desrespeito e o pouco caso à cultura, aos direitos e à auto-estima dos estudantes. Somos vítimas, mas é urgente que diminuamos nosso poder bancário (de coerção através dessa moeda que é a Nota) porque agora, a sociedade e esse poder se voltaram, finalmente, contra nós mesmos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Diário da Educação

A partir de hoje voltarei a frequentar meu próprio blog, escrevendo sobre aquilo que estiver pensando no dia ou na referida semana. Por que decidi fazer isso? Porque sou um escritor, e escritores escrevem.
Há pouco tempo assisti ao filme Julie & Julia, que para quem não assistiu, recomendo veementemente. A principal personagem do filme, Julie, chegou a uma espécie de encruzilhada em sua vida. Escritora, de um romance escrito pela metade, se sentia frustrada por ganhar pouco como atendente de telefone, não ter sua arte reconhecida e morar num subúrbio. Bem no casamento, mal com a auto estima.
Acho que me encontro em situação semelhante. Cheguei a um beco sem saída. Cada dia me sinto mais frustrado por ser apenas um professor de História e Geografia, mal remunerado, pouco valorizado e dando um duro danado, logo eu que sempre fiz e soube fazer tanta coisa diferente. Minha paixão pelo Rock é fatal, mas não ouso voltar à noite, às turnês pelo interior, carregando equipamento e dormindo em lugares horríveis e bem tarde. Também não suporto mais essa agonizante rotina de sala de aula. 54 horas, 45 períodos por semana, CHEGA!
Tenho que tirar algo novo disso, preciso compartilhar minhas experiências, dividir angústias, exorcisar sofrimentos.
A Julie do filme fez isso: criou um blog para contar a história de como preparou quinhentas e tantas receitas do livro de culinária francesa em apenas um ano. Sofreu e se deliciou, mas finalmente conseguiu a mudança desejada: escreveu um livro que virou filme, conseguiu contratos para continuar escrevendo, enfim, emergiu da mediocridade.
Procuro algo assim. Não tenho muito tempo pois a vida é bem corrida, mas, sinceramente, estou tentando. Acho que as palavras são um desafio. Já tenho experiência pois redigi em parceria dois livros, além de uma enormidade de artigos, notícias e reportagens em jornais nanicos e falecidos de música, além, é claro, de minha dissertação de mestrado.
Por essas e por outras, voltei.