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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Céu

Céu Urbano

Céu De Praia no verão

Céu Amanhecendo em Capão

Céu de Paineira Florida.

Céu Espelho D'água em Guaíba

Céu refletido em pedaço de chão molhado

Céu de Eldorado em um lindo fim de tarde

Céu Outonal


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Surrealísticas Impressões Cotidianas

Momento do Passado-Presente 


Bucólico Jardim Criado


Tênue luz Noturna


Ponta do Espelho Cinzento


Pupilos Aguados Pros Lados


Garrafa do Diretor do Lado


Recorte Atabalhoado do Saber


DKV Azul de Taquara


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Educação


O motorista viu que eu tava sozinho na parada e parou dez metros adiante, fui correndo pegar o ônibus e já ia subir e reclamar quando quase fui amassado por um jovem com uns fones de ouvido enormes e cantando alto. Me deu um ombraço no peito e subiu primeiro. Eu fiz uma cara feia mas ele nem ligou. Perdi a vontade de reclamar pro do volante. Passei na roleta e sentei no único lugar livre do ônibus. Perto da roleta, toda a hora as pessoas tropeçavam em mim. Eu tava meio pra fora do banco porque o cara do meu lado tava com as pernas bem abertas e olhando pro outro lado. Quando sentei ele abriu as pernas mais um pouco. Fiquei quase pra fora do banco. O rapaz com os fonezões mexe no celular e começa a tocar um funk bem alto pra todo mundo ouvir, “vai rolá, vai rolá, nos vamu infernizá, vai rolá, vai rolá, vem vem cá me beijocá”, bem alto, quase do meu lado. Na parada seguinte só tinha uma senhora de cabelos brancos que acenou, mas o motora não parou. Logo que passou, olhou com um sorriso malicioso para o cobrador e começou a falar, achando que tagarelava em “código”: “se a gente não cumpri o que o patrão qué, a gente se dá mau, né”. O cobrador sorriu de volta. Enfim, em um bolo de gente no ponto seguinte sobe uma heroína de uns 80 anos, mas inteira. Com alguma dificuldade, atropelada por uma moça que perguntou se o ônibus “vai pro barra? me avisa quando for a parada do barra, tá?”, ela ultrapassa bravamente a roleta e descobre que não tem nenhum lugar pra ela sentar. Tento chamá-la para o meu, mas ela não me ouve lá do fundo do busun. Mas eu a ouço, timidamente, perguntar pra um rapaz de uns vinte e poucos anos de idade, cuja cara esta virada pra janela fingindo que não é com ele, “meu filho, deixa eu sentar?”, “eu cheguei primeiro minha senhora”, alguns em volta começam a olhar curiosos para a situação, “mas esse lugar é para idosos”, “não tem nenhum cartaz dizendo nada”, ele começa a ficar sem jeito apesar da negativa, a idosa desiste depois de dar um forte suspiro e fazer sinais negativos com a cabeça. Ninguém diz mais nada. Falo pro cobrador, “ô, cobrador, pede praquele rapaz lá”, e aponto, “ceder aquele lugar praquela senhora, ela tem direito”. O cobrador vira a cara. “Ô, cobrador, vai fingir que não é contigo, cumpadi?”, “eu não vou fazer nada”, e olha pro outro lado de novo. Não tive coragem de ir adiante. Cheguei na escola. Abri a porta da sala dos professores e uma colega aos berros diz “adoro essas notícias só de violência. Estupro, terremoto, eu fico grudada horas vendo notícia disso”, a faxineira responde “ai, eu também, adoro, até jornal eu compro”. Uma diretora entra correndo pela sala e fala, “pessoal, colocaram palitinho de fósforo nas fechaduras das portas dos professores da área, mas nós já chamamos o chaveiro”, “não, de novo?”. Enquanto a galera vai ver de perto o que houve vou à cozinha pedir algum produto que me ajude a desgrudar o chiclé da minha bunda, acho que peguei no ônibus e não vi. Passo pela sala da direção e vejo uma das professoras do currículo segurando um aluno que tenta agredí-la enquanto a ofende com palavrões escabrosos. Ai, nem dou bola, vou para minha sala ver o que houve e meus alunos de longe dizem “aaaahhhh, ele veio. Por que o senhor não ficou em casa?”. Senti um nozinho na garganta e transmutei em raiva. “Por que tu não ficou em casa?”, “ai, professor, puxa ...”. Depois de meia hora no frio, entramos. Começo a minha aula e tal. Três meninas no fundo da aula estão sentadas quase em roda, uma de costas pra mim, “hei vocês meninas, poderiam, por favor, parar de conversar pra eu poder dar aula?obrigado”. Elas fazem caras de brabinhas. Recomeço, imediatamente elas recomeçam também. Paro de novo, “ô garotas vou ter que separar vocês? Não é 5ª série, vocês tão na oitava ...”. Recomeço, nem dois minutos, bastou pra elas tagarelarem. “Tá, deu, tu senta lá, tu lá e tu lá, vamos, rápido que eu não tenho todo o dia”. Uma hora depois, dou uns exercícios e saio rápido para ir ao banheiro quando vejo uns pequenininhos fazendo guerra de maçã. Um deles tem a calça gorda. Tira a fruta do bolso, dá uma mordida, gospe no chão e joga, com toda a força na cabeça de uma menina que começa a chorar. A supervisora aparece e acaba com a cena. Volto correndo. Quando chego o corredor está cheio de futas esmagadas misturadas com terra e papel picado. Três meninos da minha turma estão jogando futebol com um toco de cachorro quente. Fico possesso. Dentro da classe há duas meninas de pé em cima de uma carteira vendo tudo e gritando, “vai cara, dribla ele ...”, enquanto dois rapazes estão agarrados se soqueando no fundo da sala. Ai, não sei o que fazer. Levo pra direção, acalmo aqui … opto pela última alternativa. Recomeço, duras penas, a falar, batem na minha porta. Uma senhora que eu não conheço me aponta o dedo e começa a gritar, “o senhor não pode dar zero pro meu filho porque ele é um ótimo aluno, meu guri trabalha pra ajudá o pai dele que é paralítico e eu vou denunciar o senhor lá na secretaria ...”, até que uma moça aparece e diz, “mãe, não é esse professor aí, é lá da outra sala”, a mãe gritona não me diz mais nada e repete a cena duas portas adiante, vejo o colega perder a calma e responder na mesma moeda e penso, pra mim chega. Esse negócio de educação é muito complicado.