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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quem Vai?


Por Roseli Santos


Falta um mês para o tão falado, comentado, esperado, anunciado show do Paul McCartney e eu não agüento mais ouvir falar nisso. É sério. E olha que eu sou fã dos Beatles. Compro discos, DVDs e adoro tudo relacionado ao Garotos de Liverpool. Mesmo assim, percebo um certo exagero nessa euforia descontrolada, quase alucinada de alguns para ver o show do ex-Beatle. Além do marketing violento que impera por trás de tudo isso, me parece que há pessoas que irão ver Paul McCartney apenas porque é um momento fashion e uma oportunidade de poder dizer a todos que estiveram lá, mesmo que nem saibam sequer a letra de qualquer canção dele ou dos Beatles.

Não me refiro aos fãs de carteirinha, àqueles que pagarão um salário mínimo sem piscar para ver o ídolo de perto (neste caso nem tão perto assim), custe o que custar. O exagero está no delírio que se cria na mente bombardeada pela mídia de uma maneira descomunal. Este ano, especificamente, vários shows maravilhosos vieram ao Brasil. Claro que impera uma vontade de ir a todos os espetáculos e aí se concentra o ponto nevrálgico da angústia e do desespero que se instala na maioria, quando o desejo é aguçado ao extremo. O show de Paul McCartney caracteriza isso muito bem. Tem que ir a qualquer custo porque senão vai dizer o quê para os outros? Perdeu? Não acredito!!!!

A reflexão se aplica a outras situações do cotidiano, onde somos cobrados a todo instante, chamados a ter, a consumir, a emagrecer, a ser bem sucedidos, a estar em todos os shows, a assistir a todos os filmes, a ver todas as peças de teatro, a ler todos os livros e ainda reservar um tempo para fotografar, contar e postar tudo isso nos blogs e sites de relacionamento para que o mundo saiba que você é multimídia, está online em real-time e também em todos os lugares ao vivo, se possível.

Por isso, a notícia desta semana de que a depressão é a doença que mais atinge jovens de 18 a 25 anos nos Estados Unidos (e aqui no Brasil caminhamos para índices alarmantes também), sendo o suicídio a segunda causa de morte entre universitários desta faixa etária, não surpreende. A ansiedade de ser e ter tudo gera seres humanos cada vez mais angustiados e desesperados em obter coisas que nem sabem se desejam realmente. A angústia se transforma nessa depressão coletiva, anestesiada por medicamentos e crack, álcool e ecstasy , ou o que pintar para tornar a vida mais colorida a qualquer custo.

É claro que a música, a arte e a literatura suavizam dores e frustrações. E se você, por algum motivo, perder o show do Paul McCartney ou de qualquer outro mega, hiper astro que surja por aí, saiba que muitas novidades ainda virão e os desejos continuarão ali latentes, prontos para serem realizados a qualquer momento. Mais tarde, lá na frente, é possível que fique uma lamentação por ter deixado de fazer isso ou aquilo, embora, com certeza, haverá muitos outros motivos para recordar de coisas inesquecíveis, como o simples fato de reter (ou não) na memória, a passagem de um ex-Beatle por aqui.

Eu, particularmente, morrerei com a eterna frustração de nunca ter visto um show dos Beatles no auge da carreira deles. Não irei ao show do Paul, também, mas quem sabe no do U2 eu me anime? É a vida.

Valeu Rose!

sábado, 9 de outubro de 2010

Momento Mágico









Para ver o contrário, ou outro lado dessa exposição, acesse http://inezita-cunha.blogspot.com.

sábado, 2 de outubro de 2010

Infância e Juventude


por Inezita Cunha

Minha vida profissional tem me trazido muitas reflexões. Confesso que trabalhar na área da infância e juventude é uma tarefa delicada, cheia de fortes emoções. Escolhi este caminho, com um pouco de insegurança e expectativas em relação ao que viria pela frente. Vários amigos me perguntam por que eu trabalho com essa matéria ainda, pois acolher pessoas sofridas, em busca de ajuda ou de uma decisão que modifique inteiramente suas vidas, nos faz ir mais fundo nos nossos anseios e não nos isenta de um turbilhão de sentimentos, causando um pouco de desconforto. Um deles é a impotência, diante da desestrutura das relações humanas. Seria bom demais se eu conseguisse simplesmente desenvolver meu ofício abstraindo o que vejo diariamente. Mas está longe de ser assim. Diante desse caos ainda é possível tirar um saldo positivo e controlar o choro quando os resultados são satisfatórios.

Me tocou profundamente o caso de uma mãe com muitos filhos, que vive com enormes dificuldades para dar o seu melhor aos filhos. O "seu melhor" porque cada um tem o seu limite e as suas necessidades. E ela consegue, faz da vida uma overdose de luta, de ajustes, de bem querer. De onde vem esta força? Era o que me perguntava o tempo todo. Sei que não é a única nessa situação, milhões de pessoas ainda vivem nestas condições, mas o que ficou evidente é que o amor a faz superar até o que pode parecer impossível aos olhos de um espectador comum. Ela sim merece erguer um troféu.

Inúmeras vezes sou ouvinte, deixo que coloquem para fora seus problemas, que digam o que buscam, mesmo sem a qualificação dos psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, deixando a sensibilidade e o bom senso falar mais alto, para então expressar palavras encorajadoras e de alento. Não é fácil, entristece, respira-se fundo e segue-se a prosa, até perceber que o que mais querem é desabafar, receber um esclarecimento e  demonstração de respeito pelo ser humano que está do outro lado do balcão.

Me deparo também com crianças e adolescentes que sofrem os mais variados tipos de abuso. Cheios de medos e constrangimento vêm relatar os absurdos dos quais são vítimas. Abuso é uma palavra muito ampla, ele pode ser físico, verbal, psicológico, sexual, e compromete a maturidade emocional de quem os experencia. É imprescindível um acompanhamento terapêutico por longo período para abrandar as cicatrizes. O corpo sofre e a alma se dilacera. O que leva um adulto a cometer atos tão desumanos? Explicações não faltam. O assunto está na mídia, nos consultórios, nos tribunais, em ritmo frenético, como se fosse uma novidade, em pleno século XXI. A diferença é que tudo está vindo à tona, os órgãos especializados investigam cada vez mais com a seriedade pertinente, apesar da falta das condições indispensáveis que o Estado ainda não fornece. O que se questiona é a insanidade de tais atos, pois submeter uma criança a tanto sofrimento, para satisfazer sua lascívia ou vingar-se da própria infância, é um comportamento de difícil compreensão. Sabe-se também que na maioria das vezes não deixam vestígios.
Que mundo é este em que os sonhos são castrados, em que crianças, adolescentes e adultos não se harmonizam, em que a proteção da família para um crescimento saudável faz parte da cartilha, no entanto, na prática existem muitas dificuldades e vergonha em lidar com essas questões.
Quero crer na desaceleração dessa loucura toda, na existência de um consenso.
Mais uma vez a palavra chave é amor, bastaria para resolver tudo.


Foto by Inezita Cunha