Deixei
onze anos da minha vida pra trás, abri uma nova porta ou janela e
corri para um abraço com o futuro. Troquei de emprego. Mas não
deixei de ser professor.
Toda a
minha experiência veio comigo, enriquecendo o que levo por agora.
Todos os meus alunos, colegas e diretores que, de alguma forma,
contribuíram em minha formação estão guardados em minhas atitudes
diante do que estou vivenciando. No Padre Reus, vulgo Padrécu, fiz
muita coisa no ensino médio. Me tornei professor, criei minhas
grandes invenções, elocubrei meus melhores planos. Aprendi o que eu
faço neste espaço. Fui paraninfo, conselheiro, coordenador e
produtor pela primeira vez. Tive muito prazer em ser professor de
História e trabalhar com teatro, música, direito e desenho. Me
tornei refém dos recreios animados, projetos bem-sucedidos e colegas
simpáticos.
Em
Eldorado do Sul me pós-graduei no ensino fundamental. Em minha luta
pra entender o que é o interior do Brasil, aprendi todos os modos da
criançada. Arrisquei jornais, teatros, julgamentos, corais e
oficinas. Sempre fui apoiado pelas direções. Meus colegas sempre
foram solidários, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.
Me estressei muito e planejei tanto, por pensar que há uma certa
lerdeza e alienação cultural, que coloca essa cidade amada em um
patamar de mal resolvida, pois há tantas dificuldades latentes,
diferentes, e há tão pouco interesse ou conhecimento pra
resolvê-las. Mas temos esperança na esperança dos professores e
olhares brilhantes das crianças daqui que são sempre maravilhosas
Estou em
outro mundo. Meu mundo atual é cercado por incerteza, asperidade.
Nunca enfrentei desafios tão grandes. Educar quem tem muito pouco,
quem sofre pra viver e vive pra sofrer. Pra quem parece não querer
aprender. A escola pra eles parece um grande estorvo. E temos que
fingir que ensinamos. Peraí, eu quero conseguir ensinar esses
alunos, que são assim tão carentes e desejosos de algo bom, que
lhes coloque em um caminho menos incerto diante do futuro. Sim, eu
conseguirei isso, é uma aposta em mim mesmo.
Todo
mundo tem direito de jogar sua velha vida fora e começar uma outra,
ganhando melhor e colhendo novas amizades e experiências. É uma
renovação do ciclo das renovações e de grande magnitude, e vai me
levar a ter uma vida um pouco melhor e talvez voltar pra minha
querência. Agora, no entanto são tempos de saudade. De vidas que
virão e se foram. De planos que sumiram e reapareceram se renovando
com a esperança do presente.
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