Quem sou eu

Minha foto
Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Amedrontado

por Lawrence David

No dia seguinte à tragédia carioca de realengo senti receio de ir dar aula. Já não vem sendo dos melhores meus últimos tempos como mestre. A inquietude no meio de meus pupilos está cada vez maior. Semana passada as goleiras de futebol de salão foram jogadas em frente à minha porta e tivemos que esperar a polícia chegar e registrar a ocorrência para iniciarmos nossas aulas pela manhã. Os livros e objetos de uma colega foram atirados ao chão, alguns quebrados. Tudo ocorreu pela madrugada quando não há segurança nem vigia. Foi só pular o frágil e baixo muro e … arrombar as portas, arrancar grades cimentos e completar o quadro de estragos. Na outra manhã nossas fechaduras foram entupidas para não conseguirmos entrar, e assim se vai.
Ano passado, algum jovem idiota, publicou através de um orkut hackeado, impropérios contra a minha pessoa. Provavelmente o mesmo imbecil foi lá no meu blog e mandou eu me f.. Ora, isso está virando rotina. Como pode virar rotina a situação fluminense. O assassino inspirou-se em outros acontecidos semelhantes como mostram as cartas deixadas á polícia. Acontecimentos como esse vão se espalhar. E o Bullying vai acabar? Tem, de fato, como controlar? Uma lei basta pra impedir? Na UFRGS os trotes violentos continuam, eventualmente alguém se enfurece e comete loucuras, um bixo rebelde é humilhado até quase a morte ou sérios danos físicos, e acabou? Não, não acabou.
Comoção, esprememos nossos sentimentos, na assembléia do Cpers, sexta-feira fez-se um minuto de silêncio, aliás absoluto, nem suspiros se ouviam. Foi emocionante, estamos todos de parabéns, mas o que faremos concretamente? 10% de aumento não vai melhorar significativamente nossas vidas o suficiente para aliviarmos nossa tensão que eventualmente tensiona nossas crianças. 60 horas de jornada nos faz dizermos besteiras e tomarmos atitudes provavelmente exageradas para com os impertinentes. Mais problemas, parece que vai melhorar? Não vejo luz no fim do túnel.
A educação brasileira vem melhorando, é o que diz o IDEB. Não vem, sabemos, vem piorando. Temos um monte de projetinhos do governo federal, nos mandam revistas e bons materiais, mas a vida do mestre continua muito difícil. Acho que o número de estudantes que gostam de ler e estudar, que têm uma educação mínima e satisfatória proporcionada pelos pais, pelo menos no RS vem caindo, vertiginosamente. Estamos diante de uma geração problema. Alienados, letárgicos, consumistas, mal alimentados (salgadinho e refrigerante), revoltados, hedonistas e egômanos, cada vez mais.
É muito pouco o que vem sendo feito pra melhorar de fato a educação. Ao invés da aproximação e da integração, a distância e o medo, é o que nos resta. Não mais podemos sonhar com um futuro próximo melhor para nossa vida. Aqui no sul governo e sindicato se uniram pra nos dar o que quiserem, de acordo com seus planos políticos pré-agendados e sacramentados na burocracia do partido e, é claro, com a permissão dos empresários. Os mesmos que implementaram e defendiam piso nacional já quando oposição, agora pedem um (longo) prazo para implementá-lo enquanto governo. “Não temos dinheiro”, dizem. Já ouvi isso antes.
Eu creio que jamais, no discurso de um político, haverá grana suficiente para reformar satisfatoriamente a nossa pobre educação, insuficiente educação, medíocre educação. Está nos planos do Brasil ser respeitado lá fora e se integrar na globalização econômica. Não está nos planos investir pesado na educação, nem acabar com problemas prementes como a violência nas escolas e a péssima remuneração dos professores, que não têm direito sequer ao piso que o próprio estado elaborou. Teremos que esperar. Há, sem dúvida, muita comoção, mas pouquíssima ação. E meu medo é que essa atitude revolucionária tão necessária, não chegue nunca.
Vem se noticiando que há vagas no mercado, mas não há mão-de-obra qualificada. O pior não é dito. Que espécie de intelectuais criarão a tecnologia que levará nosso país ao primeiro mundo, se essa galera se emburrece com o superficialismo do dia-a-dia, com o quanto pior melhor, com o preconceito contra o aprender? A legitimação da violência como forma de resolução de problemas fecha a questão no que tange ao que podemos esperar. Tirinhos e mais tirinhos solucionarão tudo, e que aumente a venda de armas pro cidadão se defender.

Nenhum comentário: