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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dramatizações

Se há alguma coisa que realmente falta para as escolas brasileiras atingirem um grau de respeitabilidade no panorama mundial, esta é a atividade prática aplicada a cada uma das disciplinas. O excesso de teoria, que não se aplica, aparentemente, de qualquer forma a vivência do aluno, é o que mais temos. Não que teoria e/ou conhecimento técnico não seja importante, na verdade, é fundamental. O problema é que sem a práxis o processo fica incompleto, capenga, não funciona. Por isso nossa escola não funciona, pela falta de estudo de prática (e é óbvio que por uma série de outros problemas).

Em minha área, a História, a maioria dos professores age assim: promovem estudos de textos de livros de história (que são, em sua maioria compostos em uma linguagem abstrata e sem nenhuma criatividade), fazem questionários de estudo dirigido a partir destes e, é obvio, falam, falam, falam sobre aquele assunto em um jargão mais ou menos claro dependendo do nível de conhecimento e de didática do mestre que geralmente atrai, com alguma facilidade pelo menos um terço dos alunos a compreenderem de maneira mediana o assunto. Passa-se, talvez, um filme com algum debate ou trabalho (em dificuldades, pois os alunos não lembram bem do filme, a memória deles é bem falha, pois lêem muito pouco). Algum trabalho escrito é feito em sala de aula ou de uma aula pra outra, o que pode conferir um tom de maior ou menor autenticidade para aqueles que têm a (cada vez mais rara) habilidade de fruir na compreensão/elaboração de linguagem escrita. E é só. Às Vezes há visitas a museus – podem ser muito boas – mas geralmente aparecem para o aluno de forma isolada ou apenas passageira.

Pô, não dá mais pra ser assim. E a fala? Aluno não fala? Ah, sim, pode até ter um debatezinho aqui ou ali. Devemos, obviamente, conversar muito com eles, nos preocuparmos com o que estão pensando todos os dias (mas isso é assunto para um outro texto). Mas vejo, a necessidade premente de introduzirmos a fala como atividade sistemática de prática de história e desenvolvimento cognitivo e de organização de idéias. Por isso utilizo a “dramatização de conteúdos”, os “seminários” e o “julgamento” como formas de agir na prática em história e, obviamente, levando em conta o desempenho crescente do aluno na composição da nota de avaliação (sou contra a nota, mas isso também é um outro assunto).

Já fazem uns 5 anos que estou utilizando a dramatização sistemática de conhecimento como forma de produção prática de meus pupilos. Isso, para muitos professores de minha área pode parecer absurdo, muitos falam, pejorativamente que eu faço “teatrinho” com meus alunos, e mais ignorantemente ainda, que isso “é coisa de criança”. Não, dramatizar não tem idade, na verdade eu vejo mais como atividade de amadurecimento, seja para crianças, especialmente para adolescentes e, por que não, para adultos. Em nossa sociedade as pessoas não são mesmo educadas para falar, expressar suas idéias. A dramatização começa por ser uma forma de rompimento com o eu mudo interior.

Também se configura em uma forma bastante agradável (engraçada, dinâmica, fraterna) de comunhão entre os estudantes. Os liga à minha disciplina de maneira especialmente afetiva, ressignificando-a subjetivamente. Enfim, acredito que no sentido epistemológico/pedagógico no contexto escolar, a dramatização faz a História (e a Geografia) saltarem em importância à frente de outras disciplinas geralmente consideradas mais relevantes (sabem ao que estou me referindo).

Mas não é só isso. A criação de roteiros que expressem uma realidade ou sentido histórico é uma oportunidade viva de produção de um novo conhecimento. De criação, da produção artística, tão importante e tão pouco valorizada em nossa realidade. O aluno criativo ele sempre leva vantagem, de alguma forma, sobre os outros. Ele tem mais iniciativa, ele é mais intelectual, mais crítico, perfeito para as humanas. E na dramatização, embora muitas vezes apenas um ou dois alunos produzam o roteiro, é uma forma de democratização da arte entre todos, mesmo para os mais tímidos ou pouco dotados artisticamente.

Por isso não vacilo mais. Dou sempre a oportunidade para que se expressem livremente. Para que ativem suas memórias históricas, vivendo o papel de pessoas comuns ou famosas ao longo do tempo, em situações sociais variadas. Assim tenho um aluno mais comprometido, mais esperançoso de minha aula, mais seguro do que aprendeu porque viveu a História, intensamente.

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